quinta-feira, 5 de maio de 2016

ARTUR SANTOS (1951-2552) - Arthur Santos



















Hoje resolvi morrer em 2552!
não foi uma decisão
de ocasião.
foi maduramente pensada
e não foi à sorte.
sempre achei uma maçada
não saber a data da morte
e decidi deixá-la já marcada.

nasci em 25 de Maio 1951
e ainda pensei:
já sei!
será em 2451
um número redondo.
morrerei sem grande estrondo
nem alarido,
500 anos depois de ter nascido!

mas 2451 não me pareceu
um número atraente.
não era bem eu.
então de repente
pensei que morrer à luz da lua
num ano capicua
era mais inteligente.

encontrei um dia colorido.
nesse dia a minha morte fará sentido!
25 de Maio de 2552.
dirá quem me ouve: pois, pois!
estás é doente do miolo
nesse ano estarás há muito a fazer tijolo...

linguagem de ateu.
quem decida da minha morte sou eu.
é o meu compromisso!
não pensarei mais nisso.

Está decidido!

CADERNO DE DESENHO - Arthur Santos

No meu caderno
De desenho
Eu tenho
Muita bonecagem
E riscos
Tantos
Uns a preto e brando
Outros a cores.

Desenho monstros
Que horrores
Desenho casas
E super heróis
Desenho luas e sóis
Desenho animais
E eu sei lá
Que mais.

Desenho o que a gente
Crescida peça...
E mais o que de repente
Me venha à cabeça.

Gosto de desenhar
De pintar
De ver...
Assim aprendo a gostar
De viver!

O OVO DA GALINHA - Arthur Santos

Muito sorrateira
Logo pela fresquinha
da manhãzinha
A Dona Teresinha
Desceu à capoeira,
Pegou na galinha,
Chamada de galinha poedeira,
Que coitadinha
Ficou cheia de medo
E meteu-lhe o dedo
No rabo !!!

- Outra vez
Este método parvo
De novo !

Resmungou a galinha
Pedrez !
E logo cacarejou

- Se quer saber
Se tenho ovo
Pergunte, Dona Teresinha !

GRÃO A GRÃO - Arthur Santos

Mas que me dão???
esta comida não deve ser minha
eu não sou galinha...
não dizem que grão a grão
enche a galinha o papo?
Então???

mas tenho a impressão
que desta não escapo
lá terei que comer
este milho senão levo um sopapo...
lá terá de ser!

sempre quero ver
o que me darão quando crescer!

OS NÚMEROS - Arthur Santos

O número UM
Muito sorrateiro é sempre o primeiro.
PUM CATRAPUM, PUM, PUM...
Nenhum jejum de atum ao rum.!

O número DOIS
Julga-se senhor do mundo por ser segundo.
POIS CATRAPOIS, POIS, POIS...
Os lençóis Espanhóis vieram depois!

O número TRÊS
Como um guerreiro luta por ser terceiro .
PRÊS CATRAPÊS, PRÊS, PRÊS...
Novamente o senhor Marquês a ser cortês para a Inês !

O número QUATRO
Começa a estar farto de ser sempre quarto.
PATRO CATRAPATRO, PATRO, PATRO...
Idolatro o teatro em anfiteatro !

O número CINCO
Neste recinto ganha o quinto.
PINCO CATRAPINCO, PINCO, PINCO...
O trinco de zinco fez um vinco no brinco !

O número SEIS
Neste contexto é o sexto.
PEIS CATRAPEIS, PEIS, PEIS...
Eis os anéis dos reis que ditam leis !

O número SETE
Pensa que é muito bom ser sétimo.
PETE CATRAPETE, PETE, PETE...
Clarete ou palhete fazem o alegrete !

O número OITO
É um escravo do lugar oitavo
POITO CATRAPOITO, POITO, POITO...
Come com grande afoito um doce biscoito !

O número NOVE
Sente-se no abandono por ser nono.
PROVE CATRAPROVE, PROVE, PROVE...
Prove ou aprove é verdade que chove !

O número ZERO
De tão molengão não tem classificação.
PERO CATRAPERO, PERO, PERO...
O Ibero dança o Bolero com esmero !

E estes números que estão em fundo...
São todos os números que há n o mundo !

A MAMÃ DESAPARECEU - Arthur Santos

A mamã desapareceu
E digo eu
Se calhar foi à rua
Ou de foguetão
Para a lua...

A mamã desapareceu
E digo eu
Se calhar está no quarto
E eu estou farto
De a procurar...

A mamã desapareceu
E digo eu
Se calhar está no banho
E eu tenho
De esperar...

A mamã afinal
Não desapareceu
Porque eu
Naturalmente
Normalmente
Logicamente
Descobri-a feliz
Entre a gente!!!

OS MEUS CINCO ANOS - Arthur Santos

tinha eu os meus cinco anos
a vida para mim
era uma alegria pegada
não conhecia enganos
nem desenganos
brincava com a meninada
como todos as crianças
da minha idade
corria no jardim
fulgurantemente
com os meus longos cabelos ao vento
olhando o futuro
bem de frente

um dia não sei porquê
parei e olhei para trás
para umas folhas
caídas no chão
secas, tristes
e extremamente belas
fiquei ali parado
como que em contemplação
e ainda hoje não esqueço
aquele momento mágico
que me fez pensar
que um dia serei como elas!

A TERRA ONDE MORO TEM UM CLUBE - Arthur Santos

A terra onde moro
Tem um clube
Onde eu adoro
Fazer ginástica
E não choro
Como alguns meninos
Porque eu soube
Que a prática
Da ginástica
É bom para a saúde.

E depois...
Passo a aula inteira
Na brincadeira !

Brinco com os arcos
Dou cambalhotas
E jogo com a bolas
Que até as botas
Parecem ter molas.

E depois...
Passo a aula inteira
Na brincadeira !

Corro ao pé cochinho
Ando de gatas
E é isto a ginástica...
Conheço meninas e meninos
Não há coisas chatas
E é isto a ginástica...

E depois...
Passo a aula inteira
Na brincadeira !

O MEU PAPAGAIO DE PAPEL - Arthur Santos

Como é bom lançar
O papagaio de papel
E depois vê-lo a voar
Bem lá no alto
Preso ao cordel...

Corro pulo e salto
Quando saio
Com o meu papagaio
Que um amigo
Me deu!

E às vezes dou comigo
A pensar
Que bom seria voar
Como o meu papagaio...
A ideia não me sai
Da cabeça todo o tempo...

E o papagaio lá vai.......
Ao sabor do vento.....
Voando...
Voando...
Voando...

Quando
For grande
... Ainda falta tanto...
Hei-de voar
Como o meu papagaio de papel...

Mas sem estar
Preso a um cordel...

O SR DIRECTOR - Arthur Santos

Olhou de frente o senhor d-i-r-e-c-t-o-r.
Preciso de falar consigo senhor d-i-r-e-c-t-o-r.
Sem hipocrisias senhor d-i-r-e-c-t-o-r.
Acha que é possível senhor d-i-r-e-c-t-o-r ?

Claro que sim disse o senhor d-i-r-e-c-t-o-r.
E quando pode ser senhor d-i-r-e-c-t-o-r ?
Para a semana disse o senhor d-i-r-e-c-t-o-r.
Apenas para a semana senhor d-i-r-e-c-t-o-r ?

É importante p’ra mim senhor d-i-r-e-c-t-o-r.
Para a semana repetiu o senhor o d-i-r-e-c-t-o-r.
Olhou de frente o senhor d-i-r-e-c-t-o-r.

Avançou para o senhor d-i-r-e-c-t-o-r.
Esticou o pescoço para o senhor d-i-r-e-c-t-o-r.
E escarrou na boca do senhor d-i-r-e-c-t-o-r.

COMETI O CRIME DE GLOSAR PESSOA! - Arthur Santos

O político é uma falsidade
aldraba tão descaradamente
que chega a pensar que é verdade
a mentira que deveras sente

e os que ouvem o que ele diz
o discurso falso sentem bem
pelo que ele tem de infeliz
e pelo beneplácito de Belém

e assim na rota da corrupção
navega um grupo de assaltantes
essa escumalha da desgovernação
a que chamam governantes

LUÍS DE CAMÕES - Arthur Santos



















Eu devia ser julgado,
condenado e bem condenado
pela criminosa afoiteza
de planear matar
o pai da língua portuguesa.

no entanto tenho atenuante
deixaria com vida a mãe que nunca ninguém viu
e que afinal foi ela que a língua lusa pariu!

vou-te matar Luís de Camões
e nem a Leonor segura ou não segura
venha ou não pela verdura
te conseguirá salvar!
Vais morrer com o teu próprio veneno
o teu dia não será nada sereno.

levar-te-ei para fora de terra Lusitana.
para além da Taprobana.
sentirás nos ossos a dor
em luta feroz com o teu Adamastor.

Depois visitarás os Reis de todas as nações
e meu caro Luís de Camões,
como fizeste com o pobre Sebastião
que obrigaste a ouvir o teu sermão,
serás obrigado a ler dos Lusíadas
em voz alta e entre risos e prantos
todos os doze versos de todos os cantos
até a voz te faltar.
É assim que te irei matar!

JOAQUIM PESSOA - Arthur Santos



















Sinto muito Joaquim Pessoa,
és uma boa pessoa,
até já poemaste sobre as ruas de Lisboa...
mas tens de morrer.
não podes recorrer
nem protestar.
vou-te mesmo matar!

tenho estado
a pensar como vai ser
e já está planeado
como te vou ver morrer.
vai ser da maneira mais indecente
e muito lentamente!

lembras-te da Amélia, a tal dos olhos doces?
pois é... como imaginaste...
ela a implorar que fosses
seu amante e tu... recusaste...

pois irás com ela fazer amor.
não sei se ela te ama
mas vais desfalecer de dor
com ela na cama!

Reacção de Joaquim Pessoa a este poema:

Ahahahah!... E vais ao meu funeral?!

MANUEL MONTEIRO - Arthur Santos



















Manuel Augusto Monteiro (Vila Real, 14 de Agosto de 1948)
 Camponês, operário, escritor, alfarrabista. Militante revolucionário, ex-deputado, ex-autarca... e fodido com isto tudo (segundo ele próprio gosta de dizer). Publicou até ao momento, dois livros de poesia, dois romances e um de memórias: "Perder a esperança, porquê? - um operário fala do seu tempo".

Poeta, político, pensador,
amigo leal e verdadeiro,
operário, doutor Manuel Monteiro,
vais morrer pela poesia.
vou-te matar em pleno dia,
ali mesmo na Feira da Ladra
com todo o respeito
e nem irei parar à esquadra.
será um crime perfeito!

um crime à minha maneira.
vou ter contigo
numa manhã de terça feira,
levando o Herberto Helder comigo
e obrigamos-te a confessar sem demora
como descobriste onde ele mora.

depois da confissão chegará a tua vez.
do teu imaginário Falcão Albanês
levarás uma profunda bicada,
com o seu bico feito aço
e morrerás com um forte abraço,
deste teu eterno camarada!

Reacção de Manuel Monteiro a este poema:

Ámen, irmão.. Belo...belo...belo. Estou comovido! Fico honrado!

ROSÁRIO NARCISO - Arthur Santos



















Rosário Narciso (Lisboa, 1953)
 Professora de Físico-Química. O seu gosto pela escrita levou-a a descobrir a poesia. Frequentadora de tertúlias e encontros de poetas, publica em 2014 a sua primeira obra poética, "Uma pausa ao luar".
Olha, Rosário Narciso,
novel poeta da nossa praça,
eu já nem preciso de te dizer...
sim, escreves bem, acho-te graça
mas... vais às minhas mãos morrer.

vou-te matar
numa pausa ao luar,
como certamente já esperavas
e desejavas
e é meu desejo
que agonizes
recordando um certo beijo.

morrerás extasiada e louca,
a sentir a doce magia
do teu primeiro beijo na boca.

Reacção de Rosário Narciso a este poema:

Ficarei à espera desse mortal e maravilhoso beijo, meu genial amigo, apesar de criminoso...pois morrer assim sempre foi o meu desejo.

JOSÉ CARLOS SANTOS - Arthur Santos



















José Carlos Santos (Lisboa, 29 de Maio de 1978)
 Desde muito jovem que o fascínio pelas palavras e pela expressão escrita o "atacou". Na adolescência escrevia muita (e má) poesia. Bilingue, chegou a aparecer numa antologia poética de novos autores da língua inglesa. Actualmente tem como profissão escrever sobre música esquisita, e sai-lhe um poema quando o rei faz anos. O que, vivendo numa república, não é um sistema produtivo. Lá juntou os suficientes para em 2013 publicar o seu primeiro livro de poemas, ANTROPOMORTO. O segundo é aguardado ainda este século.


José Carlos Santos,
deixemo-nos de prantos,
de escusadas mariquices
e muito menos de matreirices.

vou-te matar.
eu sei que não soa muito bem
mandar-te assim para o além
mas tenho o apoio da tua mãe!

pego no teu ANTROPOMORTO
dou-te com o .hipocôndrio a torto
e a direito
à bruta e sem jeito
com arte e sem arte,
(aquele pontinho faz parte),
e acto contínuo e descontínuo
presto-te o último tributo
de te fechar os olhos
e... fico por ti de luto!

 

Reacção de José Carlos Santos a este poema:

Fizeste-me pesquisar a palavra "filicídio", que nunca me tinha ocorrido.

JOSÉ FANHA - Arthur Santos



















Não, não, poeta José Fanha,
aqui não se trata
de uma obscura artimanha
ou de uma qualquer bravata,
trata-se isso sim, de uma ciência exacta!

neste meu plano insano
de matar poetas
por entre curvas, rectas,
linhas tortas, linhas direitas
e sem obedecer a receitas,
reservei-te uma morte
da qual não escaparás
nem por sorte.

será testemunha desta minha heresia,
a tua querida avó Berta Emília
que te ensinou a gostar de poesia
mas que ficará apenas a ver,
não poderá interceder.

José, eu sei que és Português aqui
já vi e já o senti,
corre-te esse sangue quente nas artérias
e isso é sagrado
mas mesmo assim serás atropelado
por uma manada de vacas Cornélias!

CHARLES SANGNOIR - Arthur Santos



















Nome artístico de Carlos Monteiro (Lisboa, 15 de Junho de 1980)
 Estudou música na Escola Profissional de Musica de Almada, na Sociedade Musical Timbre Seixalense e na Orquestra de Percussão "Tocá Rufar" (onde mais tarde teve oportunidade de maestrar).
 Foi colaborador nas revistas "Infernus" e "Deezmag", autor de um livro de poesia (Caderno de Desapontamentos) e editor de dois livros de culinária. Participou como pintor em duas exposições colectivas e 3 individuais e assinou o design gráfico e capa de mais de vinte discos. Colaborou na banda sonora de dois filmes e compôs jingles para programas de rádio. Participou como actor na curta metragem "SCUM" e como modelo fotográfico no livro “With the Absolute Heart of the Poem of Life".  Dedica-se há perto de duas décadas ao estudo de astrologia e tarot. Trabalha actualmente como músico, produtor de áudio e vídeo, artista plástico, consultor na área do esoterismo e como pianista residente no programa "É a Vida Alvim" (Canal Q).
 É fundador da editora "Necro.pt" e o vilão principal no incontornável projecto musical La Chanson Noire.
Charles Sangnoir
vou-te matar!

gostas de dançar,
de beber, de seduzir, de fornicar
e vai ser assim que vais morrer,
em pleno prazer
e nem te irei pedir parecer!

não vai ser num sítio qualquer
que terás essa ventura,
vai ser num sítio à tua altura.

levo-te ao "Bordel do Lucifer"
e todas as putas e não putas,
velhas, novas, reais, inventadas,
estúpidas, inteligentes, astutas,
por ti nas noites veneradas
mas que nenhuma te é fiel,
irão sem piedade envenenar-te
com "vinagre em forma  de mel"!

Reacção de Charles Sangnoir a este poema:

Ahahaha! Lindo! Muito obrigado!

JORGE CASTRO - Arthur Santos




















Orlando Jorge da Silva Castro (Porto, 24 de Fevereiro de 1952)
 Poeta a tempo inteiro nas intenções que no entanto e por outras razões de viver, apenas exerce este mister nas horas vagas. Tem publicados 16 livros de sua autoria, desde 1999 até à data, repartindo-se entre prosa e poesia. Em parceria literária ou em mera colaboração com outros autores está associado a 22 outras obras publicadas.
 Coordenador e dinamizador das sessões "Noites com Poemas", na Biblioteca Municipal de Cascais em São Domingos de Rana, desde Setembro de 2005. Em Setembro de 2014 cumpriu-se a 100ª sessão desta iniciativa.
 Autor desde 2003, do blogue "Sete Mares" (sete-mares.blogspot.com). Co-autor em outros cinco espaços congéneres.
  Recebeu a Medalha de Mérito Cultural, da Câmara Municipal de Cascais, em 2009.  
Continua a escrever poemas e não só, desbravando o seu caminho… 

Olha, Orlando Jorge da Silva Castro,
bem sei que és um poeta jovem
já com um invejável cadastro.
os teus poemas chovem,
bem dispostos e acutilantes.
os teus livros enchem as estantes.
falas de tudo de fio a pavio
até dum tal presidente sem pio...

mas não posso mais adiar.
vou-te matar meu amigo.
livre, livre e sem algemas.
numa noite sem poemas
levo comigo um mar
das tuas palavras
e despejo-as sobre ti sem parar
até sem piedade te afogar!

Reacção de Jorge Castro a este poema:

Não serei o Zoroastro, mas nesse mar de poesia sem idade, ao ser chamado jovem Castro, afogar-me-ei... de boa vontade.

POESIA??? - Arthur Santos

só por si...
palavras que rimam
não é poesia

frases soltas sem sentido
não é poesia
frases que ninguém entende
não é poesia
falar de amores incompreendidos
não é poesia
pseudo intelectualidade
não é poesia
metáforas, metáforas e metáforas
não é poesia
amorzinhos, florzinhas, borboletinhas
não é poesia
eu não sei o que é poesia
não me atrevo a definir poesia
mas sei que não é isso
só por si

contar uma história?
transmitir um sentimento?
dar que pensar a quem lê?
ter um objectivo claro?
servir um ideal?
liberdade?

talvez...talvez...
porque não?

ONDE SE FALA DE COPOS DE ÁGUA E DE REFEIÇÕES COMPLETAS - Arthur Santos

afirmou publicamente uma amiga
com muito humor
e nenhuma mágoa
que fazer um poema de amor
é como beber um copo de água

depois duma breve pausa
defendeu a sua causa
com garra, emoção
e alma de poeta
que fazer uma poema de intervenção
é uma refeição completa!

não queria a minha amiga desprestigiar
ou contestar
nem o amor,
nem os poetas do amor,
nem a poesia de amor
até porque beber
um copo de água dá prazer
até porque um copo de boa água valoriza
de forma agradável e precisa
uma boa refeição completa
e contribui para uma boa dieta

logo um copo de boa água
eu disse de boa água
casa bem com uma boa refeição completa
eu disse boa refeição completa

já uma má água
ou uma má refeição completa
porque também as há
na muita pseudo poesia infecta
de que muito se faz uso...
eu declaro aqui que me inquieta
e que recuso!

tenho dito!

EUREKA !!! - Arthur Santos


fiz uma descoberta.
preciso de lançar um apelo
e um alerta
que me vai sair do pelo.

faço um apelo aos leitores
de poesia
que são uns amores
mas que o são em demasia.
não sejam tão amores.
não confundam a escrita
do poeta com a sua vida.
isso irrita!

faço um alerta aos leitores
de poesia
porque precisam de ser alertados
para não serem enganados.

o poeta escreve sobre sentimentos.
sim é verdade.
é uma realidade.
o poeta escreve sobre sentimentos.

mas não está em cada verso
e isso nem sequer é controverso,
a escrever sobre os seus próprios momentos.

não está em cada poema,
a falar do seu problema.

não está na sua poesia,
salvo raras excepções,
a escrever uma auto biografia.
está sim a falar de emoções.

que cansativo seria,
se em todas as suas poesias,
o poeta escrevesse auto biografias.

portanto queridos amantes
da poesia,
quando comentarem esses instantes
poéticos,
não os tomem como pessoais vivências
do poeta,
tomem-nos antes como experiências.

sim, como experiências.
o poeta gosta de experimentar,
de testar.
não se deixem levar por aparências.
por favor!!!

experimentem também
e irão ver que a poesia terá melhor... sabor!

DIREITOS DE AUTOR - Arthur Santos

não sendo eu
um poeta,
nem no passado,
nem no presente,
nem no futuro,
não estando eu
ligado
a editoras
que não estão interessadas
nem nunca estarão
em publicar
autores desconhecidos,
sem que lhes entregue um cheque
com algarismos bem coloridos.
declaro que
em relação
ao que escrevo:
PODEM COPIAR
PODEM FOTOCOPIAR
PODEM PUBLICAR
PODEM REPUBLICAR
PODEM PLAGIAR
PODEM LER
PODEM RELER
PODEM EMPRESTAR
PODEM DAR
PODEM VENDER
PODEM COMPRAR
PODEM RIR
PODEM CHORAR
PODEM MALDIZER
PODEM BENDIZER
PODEM USAR
PODEM ENXAGUAR
PODEM PINTAR
PODEM DANÇAR
PODEM ADORMECER
PODEM ACORDAR
PODEM IGNORAR
PODEM RASGAR
PODEM GRITAR
PODEM ROSNAR
PODEM GOSTAR
PODEM DESGOSTAR
PODEM AMAR
PODEM ODIAR
PODEM APAGAR
PODEM GOZAR
PODEM SUJAR
PODEM LIMPAR
PODEM MUSICAR
PODEM CENSURAR
PODEM DECLAMAR
PODEM ENSABOAR
PODEM ESCONDER
PODEM MOSTRAR
PODEM ADULTERAR
PODEM ALTERAR
PODEM POEMAR
PODEM DESPOEMAR
PODEM MORRER
PODEM VIVER
PODEM NADA
PODEM TUDO
e... sem me pedir prévia autorização.
desde que digam que o autor sou eu...
não há conflito!
Tenho dito!!!

EU NÃO TENHO ASAS MAS TENHO FÉ - Arthur Santos

Alguém escreveu:
"Eu não tenho asas mas tenho fé, ela pode levar-me muito além..."
Eu também gostava de pensarque a "Fé move montanhas"
mas nunca consegui mover nenhuma
a não ser que se chame Fé a outras coisas,
tais como:

Força de vontade,
Empenhamento,
Amor pelo que se faz,
Profissionalismo,
Conhecimento...

Ou mais de acordo com os tempos actuais
(voltaram os valores Salazarentos):
Cunhas,
Compadrios,
Incompetência,
Mentiras,
Sabugices,
 Pimbalhadas...

Tenho "FÉ"
(isto é:
ACREDITO)... que isto mude!

Depende de mim...
e de ti!

Depende
de nós todos!

quarta-feira, 4 de maio de 2016

HETERO/HOMO - Arthur Santos

Cada vez penso mais que dar amor a uma criança é um casal hétero atirar bebés para o lixo, tratá-los à porrada, não os alimentar, matá-los à facada ou pegar-lhes fogo… eu devo estar muito errado porra! isso é que é amor. Tenho de rever seriamente os meus valores e conceitos.

Ah e deduzo portanto que um casal do mesmo sexo é uma aberração e que a homossexualidade é uma doença que provavelmente se curará com alguns comprimidinhos ou injecções de última geração.
Estou espantado com o que se aprende no facebook.

Uma verdadeira Universidade. Já não é preciso obter diplomas falsos numa qualquer pseudo Universidade. basta frequentar o facebook. Nada se lhe compara. Porra !

Quanto a deus (com minúscula) ter criado o homem e a mulher… estamos conversados. Foi mesmo isso. Só de pensar no arsenal de ferramentas especiais que ele devia ter (ou então era uma entidade com ultra poderes ainda hoje desconhecidos que lhe permitiram inventar e materializar seres… do nada), fico abismado! ainda bem que descansou ao 7º dia, coitado! deve ter ficado arrasado.

Mas… tou farto de pesquisar nos escritos bíblicos e não vejo nada contra amor entre pessoas do mesmo sexo, nem contra pessoas do mesmo sexo educarem crianças. Terá sido alguma adenda ainda desconhecida do comum dos mortais? deve ser isso.

Portanto, perdão pela minha ignorância! muito embora eu não seja responsável por o senhor deus não me ter informado. Não é por incúria minha… vejo o meu e-mail todos os dias!

O que eu pensava antes:
Amor pode ser dado a uma criança por um casal hétero ou homo.
Boa educação pode ser dada a uma criança por um casal hétero ou homo.

O que eu continuo a pensar apesar das muitas tentativas de me lavarem o cérebro:
Amor pode ser dado a uma criança por um casal hétero ou homo.
Boa educação pode ser dada a uma criança por um casal hétero ou homo.

LAMENTO!

IDEIAS AZUIS - Arthur Santos

Muitas vezes as ideias surgem assim... olhando a natureza... deixarmo-nos levar por ela de olhos semi-cerrados... (que é como se vê melhor)... e deixar que ela brinque, brinque. brinque... que provoque a nossa imaginação e que brinque com o poema que nasce, nasce, nasce.....

Umas vezes nasce azul... outras não!

Se fosse sempre azul estaríamos no paraíso e infelizmente (ou felizmente) não estamos e há poetas que sabem isso como ninguém. Hoje olhamos e vemos muito negro e há poetas que combatem esse negro. Dão-lhe luta. Quanto mais não seja com versos em azul. O azul muitas vezes tem a grande qualidade de abrir brechas no negro, ofendê-lo e no limite torná-lo também azul. Hoje estamos necessitados dessa transformação.

Hoje o País está a precisar de um pouco (ou de muito) mais de azul. Eu por mim tento usar as tintas que tenho à minha disposição.

Mas se às minhas tintas se juntarem outras... quem sabe se iremos além do azul? Cor de rosa também é uma cor bonita. Vamos lá?

PORTUGAL É UM PAÍS... - Arthur Santos

CAPÍTULO I
O acordar... sou Português?

Uma manhã destas acordei a pensar que estava em Portugal. Mais do que isso, acordei a pensar que tinha nascido em Portugal e que portanto era Português. A noite tinha sido fria. Gelada mesmo. E muito chuvosa. A manhã não escapava a esse mau tempo. Também... é Janeiro, o que é que eu esperava? Sol e calor?

Olhei para o despertador que não funcionou como despertador porque eu não gosto de ser acordado por máquinas. Gosto de ser eu a acordar. Com naturalidade. Faz bem à saúde. Enrolado no meu grosso "Edredon", comecei a imaginar-me como seria ser Português e consegui mesmo vestir a pele de Português.

Já tinha ouvido falar de Portugal, se bem que não soubesse exactamente a sua localização geográfica. Deduzi que ficava na Europa uma vez que eu sou Europeu.

 Porque raios iria sonhar com um País mais distante ou de outro continente? a idade de Portugal? sabia vagamente que tem cerca de oitocentos anos mas ninguém tem a certeza.

CAPÍTULO II
Portugal 800 anos de História

Por esta altura tentava recordar-me da minha Nacionalidade mas estava meio acordado meio a dormir e não me sentia com paciência nem com disposição, para raciocinar...

- que se lixe, pensei. Se quem manda nos sonhos quer que eu seja Português, serei Português, leve-me isso onde me levar. E deixei-me levar pela situação.

- Então oitocentos anos de vida, tem esse País que eu nem sei onde fica? oitocentos anos são muitos anos não são? nem consigo imaginar quantos anos são oitocentos anos, resmunguei eu enquanto me enrolava mais no "Edredon", na tentativa desesperada de me proteger do frio.

CAPÍTULO III
Portugal País pequenino

Segundo informações que me iam chegando, isto de sonhos e de estar meio acordado meio a dormir é mais complicado do que possam pensar, Portugal é um País pequenino.

As informações, se é que se pode chamar de informações as ideias que nos assaltam nesses momentos, vão chegando em catadupa, de forma irregular e confusa e tomamos conhecimento das coisas sem sabermos a sua origem.

Deve ser o cérebro a trabalhar em auto gestão, fruto das suas deambulações nocturnas... mas como eu ia dizendo, não me quero perder nem baralhar quem lê este relato, Portugal é um País pequenino, de formato rectangular e com poucas pessoas lá dentro.

Devem ser cerca de dez milhões mas também ninguém tem a certeza, uma vez que todas as pessoas que se lembram de ter nascido, falam sempre em 10 milhões como se esse fosse um número magicamente inalterável.

CAPÍTULO IV
Monarquia e Descobrimentos

Outra informação curiosa é que Portugal é um País à Beira-Mar plantado. Os Portugueses gostam muito desta designação: à Beira-Mar plantado. Nunca ninguém percebeu porquê.

Os Portugueses tiveram Reis e Rainhas durante muitos anos. Não sei bem para que serve esta informação mas vou escrevendo de acordo com o que sentia ou pensava sentir nessa altura. Esses Reis e Rainhas gastaram todo o dinheiro dos Portugueses a construir Palácios, Castelos, Igrejas e Conventos e não fizeram mais nada. Não só gastaram todo o dinheiro dos Portugueses como o dinheiro dos outros. Empenharam-se com tantos empréstimos que fizeram fora de Portugal.

Ah! e construíram barcos também. Isso mesmo, barcos. Barcos grandes e barcos pequenos. Foi nesses barcos que alguns Portugueses se aventuraram pelo mar fora à descoberta, nem eles sabiam bem do quê. Alguns encontraram terra. Até havia na altura escolas para aprender a descobrir terras. Nos livros de história está escrito que os Portugueses deram novos mundos ao mundo.

Essa é outra frase de que os Portugueses gostam muito: Portugal deu novos mundos ao mundo. Enfim... seja! Nada contra!

CAPÍTULO V
Crimes em nome da fé e algumas guerras

Claro que nessas incursões houve crimes. Claro, em nome da Fé como não podia deixar de ser. Os Reis e Rainhas, esses permaneciam comodamente nos seus tronos dourados à espera de notícias que lhe permitisse engordar os cofres da Coroa com as riquezas roubadas aos donos das terras, desses "novos mundos". O costume.

Nesses tempo não se chamavam... políticos... eram a Realeza. Eram Marqueses e Condes e Viscondes e Barões.  Destes últimos, ainda hoje há muitos, por todo o lado da politiquice barata!
 
Internamente também houve guerras em Portugal. Ganharam umas, perderam outras mas pronto, à custa disso ou não, o que é um facto é que Portugal hoje em dia está em paz. Pelo menos em paz no que respeita a guerras na verdadeira acepção da palavra guerra! valha isso aos Portugueses.

Se calhar é porque o País é muito pequenino e não vale a pena tentar rouba-lo, porque não há nada para roubar!

CAPÍTULO VI
Fim da Monarquia

Mas o meu sonho, ou o que eu pensava ser um sonho, não me largava e continuava a debitar informações. Esses Reis e Rainhas, um dia acabaram. Foram expulsos. Ao que se diz foram para terras descobertas nessas viagens marítimas. Deixaram Portugal entregue a pessoas que queriam uma República...

Entretanto a chuva lá fora caía com mais intensidade. Os pingos eram cada vez mais grossos e batiam freneticamente na janela do meu quarto.

Comecei inexplicavelmente a sentir mais frio, apesar de estar enrolado num"Edredon" grau 10. Eu sei que não existe esse grau,. É só para saberem que estava bem protegido do frio. Mas nada me aquecia. Estranho!

CAPÍTULO VII
Implantação da República

Parecia que quanto mais informações recebia sobre Portugal, o tal pequeno País à Beira-Mar plantado e no qual no meu acordar estremunhado era suposto eu ter nascido, com mais frio ficava. Numa razão directamente proporcional. Estranho!

Do que começava a ter consciência, é que começava realmente a despertar. A ver o que se passava à minha volta com mais realidade e não duma forma fantasiosa.

Continuando...A tal República venceu a Monarquia. Houve guerra claro, nem podia ser de outra maneira. Mas pronto, Portugal tinha finalmente uma República. Uma República titubeante mas uma República.

CAPÍTULO VIII
Sal e Azar, Revolução e sonhos de Democracia

Nessa altura do meu despertar, ouvi, ou pensei ouvir, uma voz estranhamente familiar. esforcei-me para saber de onde vinha mas não consegui saber. Dizia-me essa voz que Portugal caiu durante quase 50 anos numa Ditadura feroz. Chamaram-lhe Fascismo.

O sonho dos Republicanos caiu por terra. Não se conseguiram entender e alguém com Sal e muito azar para os Portugueses assaltou o poder! Esta do Sal de do azar é também uma expressão de que os Portugueses gostam muito, até porque foi criada por um brilhante Português de seu nome Fernando Pessoa. Isso foi claro no meu sonho e ainda bem, porque nesta descrição não quero roubar ideias de ninguém e muito menos do Fernando!

Mas depois desses quase cinquenta anos de um Estado a que chamaram misteriosamente Estado Novo e que de novo não tinha nada, tinha apenas a figura de um ditador sanguinário, os Portugueses um dia derrubaram essa ditadura do Sal e do azar. Esse dia, ouço claramente a tal voz a segredar-me ao ouvido, foi o dia 25 de Abril de 1974.

Foi nesse dia que Portugal abriu as portas à democracia. Foi o fim da ditadura pensavam os Portugueses. Abriram-se portas, muitas portas, à Democracia. "As portas que Abril abriu"  no dizer de Ary dos Santos,  um grande poeta Português.

CAPÍTULO IX
Eu sou mesmo Português

Nesta altura já me sentia acordado. Eu acordo rapidamente pelo que imagino que tudo isto me passou pela cabeça durou apenas alguns segundos. Acontece-me muito e não sei explicar. Estava mesmo acordado.

Olhei para a janela do meu quarto. Afinal não estava mau tempo e não era Janeiro. Era hoje, 4 de Fevereiro de 2014. Não estava frio. Não chovia. O meu "Edredon" é de grau 5. Lá fora estava um sol radioso. Eu sou mesmo Português. Eram nove horas da manhã.

Tudo aquilo que me passou pela cabeça são coisas que já sei há muitos anos e a voz familiar que eu ouvia era a minha mulher a dizer-me para eu me levantar porque já eram horas do pequeno almoço. O cérebro, essa máquina que julgamos perfeita prega-nos cada partida. Ou é partida, ou é mau funcionamento. Isso ainda estou por perceber.

Eu sei porque tudo isto me passou pela cabeça. Já não é a primeira vez que me acontece. É porque estou preocupado. Mais do que preocupado estou com medo. Estou com medo que as tais portas que Abril abriu se fechem para sempre.

É que já se fecharam muitas. Já se fecharam portas demais e quem as fechou deitou a chave fora. Há uma quadrilha de malfeitores, um bando organizado, empenhado em fechar as portas todas. Estão a conseguir e sem grande oposição. Com uma oposição... macia.

CAPÍTULO X
As portas que o governo fechou

Portugal está a transformar-se, nas portas que o governo fechou!
Estou com muito medo!

UMA VERDADE! - Arthur Santos

sim é verdade
uso sapatos velhinhos
e para os dedos andarem à vontade
cortei-os rentinhos

sim é verdade
o meu pé está sujo
não é um pé que agrade
não é um pé de civilizado sabujo
é um pé de homem explorado
um pé de homem trabalhador
que sempre tem sido explorado
por ter a pele de outra cor!

sim é verdade
é uma realidade
não tenho que comer
não tenho que beber
não tenho conta bancária
a minha saúde é precária...

mas sou muito mais homem
que muitos homens
que se dizem homens!

ERA UMA VEZ UNS OVITOS - Arthur Santos

Era uma vez uns ovitos que se soubessem para o que estavam guardados tinham ficado tranquilamente no cu da galinha, passe a expressão ordinária mas como foram atrevidos saíram e pronto traçaram o seu destino macabro.

imaginem que ainda era novinhos e partiram-nos logo, nem chegando a viver a sua infância quanto mais a adolescência e para agravar a situação, dividiram-nos ao meio, gemas para um lado e claras para o outro e sem direito a reclamações.

depois disto ainda torturaram as gemas, fazendo-as passar por uma peneira e era ouvir os gritos das coitadas mas não havia nada a fazer, quem lhes fez isto deixou-as depois a repousar enquanto foram preparar o resto da tortura que constava de um banho de água, açúcar e gotas de baunilha.

as gemas em repouso olhavam tudo aquilo com um ar inquieto, ignorando o que lhes ia acontecer a seguir, passando da inquietação ao terror, porque o tal banho acabou de ir para o lume. era assim um banho a ferver.

nessa altura obrigaram as pobres gemas a passar por um funil estranho de três buracos muito estreitinhos, saindo pelo outro lado desse estranho instrumento em fios que mais pareciam linhas de coser trapos…

as pobres gemas caiam assim no banho quente, sendo logo agitadas por uma colher de pau em movimentos circulares e nunca chegaram a perceber para que servia esse ritual… só sabiam que ficaram pouco tempo no banho, vá lá e eram logo retiradas com um garfo, para um sitio onde ficavam a escorrer, o que as aliviou bastante depois daquele banho a escaldar e mais aliviadas ficaram quando as colocaram num tabuleiro e lhes deram novo banho mas desta vez com água gelada.

começaram a pensar que os humanos eram a espécie mais doida e estúpida que podia existir mas como já tinham concluído, estavam nas mãos deles e não podiam fazer nada.
a estupidez aumentou quando depois do banho gelado, ainda levaram com uma colherada do tal banho quente... merda então isto não pára? Não, não pára.

de novo veio o tal garfo que afastou uns dos outros os desgraçados fios em que as gemas se transformaram  e de novo os obrigaram a escorrer toda a humidade que tinham ganho com toda a tortura a que foram submetidas.

no final ainda houve uma voz masculina que berrou: então ninguém rega isto com um pouco de rum?
felizmente para elas não havia rum na casa, escapando desse modo a uma bebedeira de caixão à cova mas eu disse escaparam?

Não, não, infelizmente não escaparam, de repente apareceu um garfo por cima delas e….
ainda escorregavam por um túnel escuro e húmido quando ouviram uma voz distante:

DELICIOSO!!!!
Depois... silêncio total…

OFENSA POR OFENSA - Arthur Santos

Ofensa por ofensa
Nem se pensa
Nem se declara à imprensa
Mesmo que seja intensa
Deve antes esmagar-se na prensa
Antes que a situação se torne densa
E irremediavelmente tensa

Dente por dente
Ainda menos se tente
Mesmo que nos pareça diferente
Hoje é o presente
Amanhã sai tudo da frente
E constatamos tristemente
Que afinal o que parecia provocação inconveniente
Era apenas uma opinião pouco consistente.

Olho por olho?
Nem pensar...
Os olhos fazem muita falta!!!

UMA CONVERSA COM O 25 DE ABRIL - Arthur Santos

Anda cá 25 de Abril,
quero ter uma conversa contigo.
uma conversa longa, de intimo amigo.
já o tenho tentado várias vezes.
sim, ao longo de todos estes anos bem tento
mas nunca tenho conseguido.
assisti ao teu para mim inesperado nascimento
e logo te meteste em românticas revoluções.
assim conquistaste os nossos amedrontados corações.
foste crescendo com dificuldade, no meio de muitas confusões.
passaste por um Março, passaste por um Setembro
que te ofereceu maiorias envenenadas e silenciosas
que mais pareciam politiqueiros bordéis,
resististe a conspirações de coronéis
mas conseguiram acorrentar-te em Novembro
por teres ideias consideradas "perigosas"
por uma CIA...
que estava presente mas que ninguém percebia!

meu caro 25 de Abril,
eu bem queria ter tido esta conversa contigo
mas nessa altura andavas iludido,
pensavas que tinhas um batalhão de amigos
que eras o salvador duma pátria oprimida,
sem perceberes que esses amigos eram gente vendida.
assim viste a revolução atraiçoada.
até ergueste uma muralha de aço
que não era de aço nem era de nada
e a ela te dedicaste a tempo inteiro,
com um Vasco por companheiro
mas a muralha caiu numa triste derrocada.

anda cá 25 de Abril,
agora mais calmos podemos conversar.
diz-me lá porque adoptaste cravos vermelhos
nos canos das tuas velhas espingardas?
diz-me lá porque deixaste que te metessem albardas?
tu não tinhas cravos de nenhuma cor
se não fosse um qualquer estupor ter inundado Lisboa
com cravos que já não podia vender
e assim foste entupido para seres o que não querias ser!

Estás a ver 25 de Abril?
e já não ouvias ninguém.
já não ouvias quem não queria cravos mas sim uma revolução.
passaste a viver na tua ilusão.
como te poderia eu dizer
no meio do ruído de anónimas multidões
que não era com cravos que se faziam revoluções?
tu já não ouvias ninguém...

E agora 25 de Abril?
já reparaste que com esse ingénuo Abrilismo,
carregado de puro romantismo,
abriste caminho a corruptos e ladrões
e que são eles que hoje têm o País na mão,
vendidos ao alto e Nazi interesse Alemão?

estás satisfeito 25 de Abril?
não te revoltas 25 de Abril?
deixas alegremente a banda passar 25 de Abril?
achas que são suficientes discursos de ocasião 25 de Abril?
e as promessas que fizeste 25 de Abril?
estás velho e cansado 25 de Abril?

pois!
acredito que sim,
já não tens força nem coragem
para arrancar os cravos murchos dos canos?
aceitas todos os desenganos?
aceitas?

pois eu não aceito e lanço-te um desafio.
recupera a coragem, ganha coragem 25 de Abril,
corre com todos os oportunistas irracionais
senão qualquer dia é tarde demais!

outra coisa 25 de Abril
nunca penses que derrotaste a seita
eles nunca morrem, estão sempre à espreita,
pior ainda fazem-se passar por ti,
imitam-te na perfeição
e sempre... "a bem da Nação".
infiltram-se, ganham eleições, elegem
gente para inventar leis que os protegem.
tem cuidado 25 de Abril.
não os desvalorizes, são gente "esperta".
fica sempre alerta!

25 de Abril,
estou finalmente a ter esta conversa contigo.
estás a ouvir-me ou estou a falar para as couves?
nunca tenho a certeza se me ouves...

25 de Abril
estás aí?
precisamos de ti...
sem cravos!

FUI VER UM JOGO DE FUTEBOL - Arthur Santos


 
fui ver um jogo de futebol
depois de um jogo de andebol
jogavam a bola com os pés
corriam o campo de lés a lés
a bola nunca mais entrava
na grande baliza que lá estava
até que o árbitro que andava por ali
assinalou um pénalti.

houve insultos e empurrões
enérgicos pedidos de satisfações
mas nada demoveu a senhor de preto
para mim não foi falta mas não me comprometo
houve cartões amarelos e vermelhos
os atletas mais velhos davam conselhos
e a bola lá foi metida no sítio certo
com um treinador boquiaberto
a olhar incrédulo para aquilo tudo
sem conseguir ficar mudo.

em todo o estádio gritaria infernal
bombas e fumos a saírem do arsenal
finalmente o jogador armado em esperto
coloca lentamente a bola no sitio certo
afasta-se aparentemente tranquilo
está farto de fazer aquilo
pisca o olho ao homem que defende a baliza
olha em redor como quem analisa
corre para a bola quase sem balanço
e quando vai aplicar o fatal picanço...

escorrega na relva, cai no relvado
e a bola ainda chutada sai ao lado!
e grita um: ainda vamos ganhar assim espero
mas não, o jogo acabou zero a zero!

ABERRANTE - Arthur Santos



tu és aberrante!
é um insulto gigante.

o aberrante
até pode ser uma pessoa errante
que ande por aí ao desatino,
sem destino.
é muito provável
que não saber para onde vai
o torne menos amável
e muitas vezes desagradável.

é a sua natureza bamboleante
que o leva a ser...  aberrante!

vão por mim...
abaixo o aberrante abaixo - sim!

DAÍ, DAQUI, DALI OU DACOLÁ! - Arthur Santos




olá
eu sou daqui
e tu daí
mas se és tu a dizer que és daqui
é porque não és daqui
mas sim daí
a menos que digas que és daí
nessa altura é porque és daqui
como eu!

mas se eu digo que sou dali
e tu também dizes que és dali
podemos ser do mesmo sítio
mas também de sítios
diferentes
então temos de dizer qual é o sítio
para ver se são coincidentes!

ser dacolá
é mais ou menos o mesmo que ser dali!

como confusões é o que mais há
o melhor é dizer logo onde se está...
seja daí, daqui, dali ou dacolá!