EU
Olho-me no espelho das razões.
Que sou eu?
Quem sou eu?
E a resposta perde-se em várias reflexões.
O meu Sol já só aquece o tempo esquecido.
Que o tempo fez questão de se mostrar.
Mas as margens do meu Rio continuam a florir.
Ah se a morte visse a ira com que vivo.
Vou continuar a cruzar caminhos contra o tempo
e a viver alegrias desnudadas,
que a força das emoções com que escrevo
irrompem como ondas encrespadas.
O agora já é tarde.
É espaço vazio forrado de impropérios.
Já imprimi à minha vida outra velocidade.
Eu já escrevo só na borda do papel.
Que não me alongo em conversas sem sentido.
Já sou trevo,
não um simples rebento
de uma qualquer erva daninha.
Já sou fogueira na noite fria.
Sou lanterna, sou farol.
Sou maçã por trincar.
Sou fermento.
Já me lembro de ter vagueado pelo tempo.
De ter sido outra gente.
Já não sou indiferente à beira do tédio.
Já sou a paixão com que escrevo.
Já sou a razão sem procura de razões.
E já sou do muito saber marginalizado.
Que é o preço a pagar pelo meu destino marcado.
Eu caminho sozinho.
É essa a grande chave do Mistério EU.
TENHO NOVE POEMAS
Tenho nove poemas castrados
em estrofes atormentadas.
Nove poemas esconjurados,
nove gargantas cortadas.
Nove poemas roubados.
Nove ideias apagadas,
nove gritos abafados.
Vou libertá-los,
rasgá-los.
Vou pintá-los numa tela.
Estes nove degolados
serão pintura tão bela
que as cores que gritam calados
do meu navio serão vela.
Nove braços trucidados
nas páginas de um simples livro.
São os nove malfadados.
Os nove
e comigo dez.
Nunca mais os meus poemas
levarão mais pontapés.
Nove poemas e eu.
Que perfeita sintonia.
Do outro lado do verso
no negro da poesia.
Nove gemidos de dores.
Nove pragas,
nove vagas.
Nove amores.
Tenho nove poemas moços.
Nove gritos de agonia.
Nove facas afiadas nos pescoços.
Vou rasgar nove livros de poesia
e escrever outros poemas nos destroços.
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