domingo, 24 de setembro de 2017

9 POEMAS de Rosário Narciso






















MORA EM NÓS DEUS E O DIABO
Caminhando lado a lado
calando a voz que não queremos,
mora em nós Deus e o Diabo
desde o dia em que nascemos.

Da mesma “massa” se é feito, com um abismo pela frente
e o mundo dentro do peito, onde estamos,
tão diferentes!

Sublimando o bem e o mal,
somos tudo o que quisermos,
pois  em nós só sobressai aquilo que enaltecermos:

trabalhador, mandrião, samaritano ou ladrão.
há o puro e o invejoso que também connosco habita,
o malvado e o intriguista que demente se consome
nas teias da maledicência
e também o pacifista cuja vida se alimenta
da bondade e da clemência.
Tudo somos, à nascença!

Numa guerra sem razão onde não falta a desdita,
só se abraça o que nos dita a construção da existência.

Assim o "Ser" se alicerça no poder da exaltação
e o destino se concerta, controlado pelo desígnio
da vontade e sem ciência, onde a razão sucumbe intacta
na glória que sopra, inata, da surdez da nossa essência.





TU ÉS UM SOL RADIANTE

Tu és um sol radiante
Que ilumina as minhas noites!

Doce aragem que me abraça,
Que é carícia que arrepia
Que passeia e me incendeia todo o corpo,
Á flor da pele

Tua voz é melodia
Que me impele a navegar
Quando evocas o meu nome,
Carícia para os meus ouvidos

Então, sorvo da tua boca
Todo o mel desse teu beijo
Que é deleite de doçura,
 E que perdura
Na raiz dos meus sentidos

Tu és um sol radiante
Que incendeia as minhas noites!

Nesse instante de magia
Em que a paixão é poesia
Só existes tu e eu
Ao compasso do desejo
De um ardor que nos domina
Que culmina em apogeu
Quando abafas os meus gritos
Na exaltação de um beijo
  





ACONTECEU HÁ QUARENTA ANOS

( 25 de Abril de 2014)

25 de Abril… foi esse o Dia!
De soltar a voz da boca amordaçada
E em cada rosto que saiu à rua
Com gritos de júbilo na voz embargada 
Há um laivo de esperança que no ar flutua

Foi o quebrar das correntes da clausura
O desvanecer da bruma e do cansaço
O atear de um fogo brando, adormecido
O ressurgir de um fio de luz na noite escura

Passava pouco da meia - noite
Quando se ouviu o tema
 “Grândola, Vila Morena…
 … Terra da fraternidade”
 Foi a mensagem para tudo começar
 Era o sinal pra Portugal libertar!
E o povo clamou pela paz e a liberdade!

25 de Abril… foi esse o Dia!
E foi em júbilo que o povo saiu à rua
Velhos, novos, de qualquer idade
“O povo é quem mais ordena
dentro de ti, oh cidade!”
E Lisboa era a cidade
em que tudo acontecia
nesse amanhecer primaveril
do primeiro 25 de Abril!

Aconteceu há 40 anos!….
E agora… o que sentimos?

O que nos resta dessa doce madrugada
Senão um suave sulco de mágoa
Desse tempo de excelência
Que agora nos roubaram
Pela ganância e a incompetência?

O que nos resta dessa doce madrugada
Senão o amargo sentimento
Que do abismo instalado
Nenhum de nós está inocente?

E tudo isto se questiona…
O que foi que aconteceu?
Porque foi que o sonho morreu?

E a tudo há que dar resposta
 Sair desta inércia imposta
Pela construção de um futuro decente
 Recriar Abril está na nossa mão
E se for preciso…que Viva a Revolução!

Se da realidade não há que fugir
Pagar a factura, temos que assumir
Então que se faça com humanidade
e não sempre o pobre, a ser espoliado
Exijamos pois a máxima equidade
Consulte-se o povo e então se decida
Sempre com justiça e honestidade

Há que lutar pois, ser interventivo
Crer que ainda existe alguém de excelência
Que tudo fará com alma e decência
Pelo bem de todos e com heroísmo
Que nos trave a queda no profundo abismo

Temos de acordar e seguir em frente
Recriar Abril está na nossa mão
Tomar novo rumo mas erguendo o punho
Contra todo aquele que nos trama e mente!




AMO
Amo o perfume doce das flores de laranjeira
O esvoaçar das borboletas em torno do aloendro
Um aroma de alecrim com um toque de alfazema,
O trinar da cotovia debicando o azevinho
Um céu de cetim azul enfeitado de açucenas
A dança num mar de prata em noites de lua cheia 

Amo o ondular das searas ao entardecer do dia
O vermelho das papoilas em delírios de perfume,
O renascer das manhãs a iluminar cada rosto
Um abraço apertadinho e um sorriso bem disposto

Amo o renascer da esperança num rosto desesperado
Sentir que se luta e avança contra todo o gesto imundo
Amo a paz e a concórdia em toda a humanidade
Amo gestos de respeito, amor e fraternidade
Poder dissolver na chuva o pranto de todo mundo



SINTO SAUDADE    
Como melodia
 Eu te construí
Fiz de ti meu ídolo
E assim te inventei
Contigo vivi
Meus doces momentos
Quis-te conservar como te pintei
Contigo voar
 Para além do tempo

Agora já sei
Porque te inventava
Era desse sonho
 Que me alimentava
Tu não existias
Como te evocava
E o Tempo passou
 E tudo findou
Foi com mágoa e dor
 Que o sonho acabou
Quando percebi
Que já não te amava

Aceitei então
Que já não te tinha
Mas não fico triste
Nem choro por isso
Tudo o que vivi
 Me engrandeceu
Retalhos de vida
Que a vida me deu
Resta-me aceitar,
 Ficarei assim
Contigo a meu lado,
Já não inventado
É a ti que eu tenho
Tão longe de mim

 Mas sinto saudade,
Saudade de ti
Saudade de tudo
 O que não vivi
Saudade do sonho
 Que acalentei
De voar contigo
Nas asas do tempo
Daquilo que foste,
E do que em vão esculpi.




VEM
Vem…
Meu menino de olhar doce,
Faz parte deste meu sonho
Em que recuo no tempo
Querendo soltar as asas
Afastar sombras nefastas
E abismos no pensamento
Faz parte deste meu sonho
Onde o destino é só nosso
E nada tolda o meu querer
Onde respiro e suspiro
Num suave amor eterno
Onde sempre foste a chave
e me preenches…
Vem…
Meu menino de olhar doce,
Acalma esta minha angústia
De já não te ter comigo
Vagueia no meu sonhar
Tua voz que me atordoa…
Em suspiros que persistem
Dos toques que se eternizam
Menino de olhar doce e triste
Faz parte deste meu sonho
Quero regressar ao tempo
Em que só a mim tu querias
Quando só a mim me vias!
E era tão genuíno e puro,
Esse amor que tu me tinhas…
Menino de olhar doce e triste
Não me deixes ficar só
Perdida num sonho inútil
Porque sem ti, tudo é fútil!
Não permitas o tormento
Em que acorde e acredite
Que foi medonho este sonho
Menino de olhar doce e triste
..............................................
Que só no meu sonho existe!




ENTARDECER
Em fulgores de laranja, entardecia…
E um misto de odor a prado e maresia
Trazido pela perfumada brisa morna
Traz-me a saudade do que dantes fui,
Outrora….
E tudo em mim revive e se revela
E minha alma na penumbra, dantes luzidia
Chora e soluça, triste de saudade
Dessas mesmas tardes mansas e serenas
Em que me enlouquecias toda nos teus braços
Pergunto à brisa doce onde ficou
Esse cântico alegre que era o meu hino
E se partiu nas sombras do caminho
Qual flagelo triste do destino
Que me deixou esta mágoa, esta saudade…



O PRIMEIRO BEIJO
Quando já não existem mais palavras
Para mostrar o tanto que se sente
O delírio do nosso olhar é tão intenso
Que os olhos se cerram em deleite
E os lábios se tocam docemente
É assim a magia do Primeiro Beijo
O mais terno e puro que temos na vida
Em que apenas os lábios se acariciam
Num silêncio cúmplice de amor inocente
Que nunca mais se esquece, nunca mais se sente…





ESCREVO POEMAS
Escrevo poemas
de muitos sentires e temas
e nem sei como o consigo,
Sei que me atrevo e que escrevo
sempre que a alma se aperta
por um odor que respiro
ou clamor que me desperta

Começo a compor, redijo,
e as palavras se constroem
a rimar na minha mente
como uma força divina
ditada por outras gentes

Ferida a doer, nostalgia,
luz de vida que incendeia,
seja de dor ou alegria,
é ânsia que não me deixa
se calo em mim a Poesia

São bramidos de paixão,
que embora vivida ou não
é emoção que me inquieta
quando a inspiração desperta

E assim nascem meus poemas
de muitos sentires e temas…

Escrevo versos que eram meus
mas que agora já não são …
são escritos que são o clamor
dos gritos de toda a gente



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