domingo, 24 de setembro de 2017

O HOMEM QUE CHORA Miguel Corticeiro Neves























Quem nunca teve dias em que teve de sorrir e não lhe apeteceu mesmo nada?
Quem nunca teve dias em que mais lhe apetecia enfiar-se na cama e não sair de lá, não por preguiça, mas, simplesmente, porque pretende conversar consigo mesmo… e teve de resistir a esse desejo, porque não vive isolado?
Quem nunca teve dias em que teve de trabalhar – e muito – sem vontade para o fazer?
Quem nunca teve dias em que gostaria de ter dito alguma coisa (boa ou má) a alguém, e, por uma questão de respeito, oportunidade, salvaguarda de si próprio, medo, precaução, entre outros sentimentos, ficou com essa intenção apenas?
Quem nunca se sentiu arrependido por não ter dado aquele passo a mais que poderia ter modificado - e muito, quem sabe - a sua vida?
Quem nunca, por tudo o referido e por muitas outras coisas, sentiu uma enorme vontade de chorar e, por vergonha, não chorou?
Eu já chorei por isto tudo… e por muito mais… e por muito menos…
E até já chorei quando não o deveria ter feito…
E já chorei de tão bem estar também!
Mas também já chorei porque mostrei o meu peito…
Sim, porque um homem também chora!




Quando a mente encontra a alma
E as duas não se entendem,
Eu chego a perder a calma
Porque ambas me confundem…
Se a alma pretende amar
E dar largas ao coração,
A mente vem baralhar
E aos amores dizer não…
E neste conflito constante,
Em que procuro um meio-termo,
Há alturas em que dói bastante
E meu coração fica enfermo…
Dói quando não aproveito
O que a vida me abona
Por ter este meu jeito
De ter uma alma chorona…
Chora por pensar que não deve
Tentar ter o que gostaria,
Pois nem sempre se atreve
A ir além do que deveria…
Chora porque não conseguiu
Atingir o que sonhou,
Porque o sonho lhe fugiu,
E para longe se afastou!
Chora porque perdeu
Momentos de felicidade
Que alguém lhe prometeu,
Mas roubados pela adversidade…
Chora porque não tem
Um cheiro de amor por perto
Cheiro esse que é de alguém
Que deixa a alma sem concerto…
Mas chora também porque ri
E por ir aproveitando
Momentos, aqui e ali,
Que a dor vão suavizando…
E chora ainda por ver
Que também vai conseguindo
Aos outros, algum bem, fazer,
Seja chorando ou sorrindo!
Chora, por tudo e por nada,
Chora porque apenas detém
Uma alma enamorada
Por quem no coração tem!
Chora porque é feliz
Quando as tristezas somem…
Chora sempre que diz
Que chora por ser homem!
Sim, porque isto do choro,
Não é fêmeo, em exclusivo …
É uma espécie de soro,
Do tipo anti-depressivo…
Lava as mágoas da alma,
Limpa, da mente, o mal…
E ao coração dá a calma
Para se manter racional…
E se há homem que não chora,
Não é homem para amar,
Pois não deixa sair para fora
O que de si tem para dar…
Ah… choro este, terrível,
Que liberta e escraviza…
E que faz, do impossível,
Obter o que se idealiza!
Chora, pois, ó ser pequenino,
Não reprimas esse caudal,
Que de ti faz, não um menino,
Mas um homem com espinha dorsal!

1 comentário:

  1. Obrigado por incluir este texto entre os que publica no seu Blog...
    Um forte abraço!
    Miguel Corticeiro Neves

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