domingo, 24 de setembro de 2017

SEM TÍTULO (in: Momentos) José Luís Outono




 


















Como vês, tenho mais razões para te escrever e, não passo de uma simples folha branca. Tu nem para escreveres infinitos de enleios existentes serves.
Apenas uma única vez te ouvi dizer:
- Amo-te….sou feliz!

Gritaste-o, frente ao mar, naquela noite onde nos aquecemos num abraço muito sentido. Já não te lembras. Eu sei. São os destinos de simples folhas de papel, que depois de usadas, vão parar ao lixo. Abençoadas as que ainda são ou conseguem ser recicladas.

Não me ligas nenhuma. Já te gritei nestes momentos, alvíssaras de um escrever para sempre e continuas nessa postura de poeta, que odeia a prosa.
Constróis cada palavra ao milímetro, lanças cada frase em versos destemidos e, por vezes agarras no teu poema e lês…forte, dimensionado, louco, quase impossível e, no entanto é dimensão palpável.

Aí confesso, gosto de sentir-te, na tua voz quando me lês e, isso acontece tão pouco. Vês, tenho tanto para te dizer e, tu não me deixas sequer ser amante do teu desejo. És sempre o mesmo. Agarras-me, olhas-me e atiras-te, às vezes doce, outras bem zangado para o meu centro, a que tu chamas colo. Gosto, quando me escreves essa palavra, porque os teus olhos assumem uma cor diferente. A cor infinita, como um dia disseste.

E adoro o desenho da tua caligrafia, às vezes ousada em escapadas de rabisco fundo, como se estivesses a fazer amor, outras melancólicas onde repetes e apagas, repetes e apagas…até ao âmago da última letra do verso final. Poetas. São todos iguais.

Razão tem o crítico em te chamar fingidor. Mas aí sou tua testemunha abonatória. Podes fingir à vontade, quando me escreves com alma ou desânimo, porque eu sei pelo correr da tua pena, como te sentes. Mas, prometo guardar segredo. Mesmo que me leiam, não ecoarei um som. Por favor, façam a vossa leitura. Vês…sou tua amiga. Tenho tanto para te dizer e, tu não deixas.


Perguntei-te se estavas bem e, adorei ver o teu sorriso. Nunca te disse, mas os teus olhos castanhos escuros são lindos, quando sorriem. Vejo-me neles, como espelhos fiéis da minha ânsia. Tenho tanto para te dizer e, tu nunca deixaste. Querias ficar sempre por cima, na tua razão.

Sem comentários:

Enviar um comentário