quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

11 POEMAS de António Henriques
























  1. ABISMO
  2. FOLHA EM BRANCO
  3. GRASSA O FOGO DE NOVO
  4. TÃO PERTO, MAS TÃO LONGE
  5. SENHORA
  6. MISTÉRIOS DO AMOR
  7. O MELRO
  8. ALENTEJO
  9. 1º DE MAIO
  10. GENTIL DAMA
  11. ONDE ESTÁS ABRIL

ABISMO
Existe um abismo bem profundo,
Onde devia haver paz e amor,
O mal foi-se espalhando pelo mundo,
Por quem falava em nome do Senhor.

Homens de Fé, que apenas homens são!
Abusando de tantos inocentes,
Não merecem desculpa nem perdão,
Não temiam a Deus, nem eram crentes.

Vergonha, dita agora em lamentos,
Quando tudo encobriram, no passado,
Não apagam as dores e os tormentos,
Nem da Igreja, lavam seu pecado.

Deverão ser julgados seus autores,
P`la justiça da terra, não de Deus
E na prisão pagarem p´los horrores,
Infligidos, por esses actos seus.

Se não mostrar firmeza, que se veja
E justiça que seja, exemplar,
Ficará mal, então, a Santa Igreja,
Muitos, já não se irão, nela, fiar.

FOLHA EM BRANCO
Folha em branco, palavras esperando,
O que a inspiração, lá deposita
E branca já não é, pois está escrita,
Com letras que vão nela, despontando.

E lentamente, assim, nasce o poema,
Pela mão do poeta, inspirado,
Na folha vai ficando então, gravado,
O que a alma lhe dita, eleito, o tema.

Assim a poesia, vai, correndo,
Tal como um cavalo à desfilada,
Liberta, espontânea, grandiosa.

A folha que era branca, escurecendo,
Com a composição, nela plasmada,
Findando-se o poema, em verso ou prosa.

GRASSA O FOGO DE NOVO
Grassa o fogo de novo em Portugal,
Em intensa fornalha, infernal,
Que tudo à volta, está a devorar,
No Algarve, de novo, nessa terra,
Tem de negro, pintada, sua serra;
Sem previsão haver, para o parar.

Tais locais, sem acessos serem feitos,
A tais calamidades estão sujeitos,
Por culpa de tardarem decisões,
Que dormem mansamente nas gavetas
E depois nas TVS, dizem-se tretas,
Mas quem sofre são as populações.

Arriscam os bombeiros suas vidas
E pilotos também, nas investidas,
Que fazem para o fogo combater,
Mas antes de um fogo se activar,
As soluções se devem encontrar,
Para tal tragédia não acontecer.

Tantas leis feitas, mas pouco cumpridas,
Podem causar de novo, perder vidas,
Por tudo se deixar ao Deus dará.
Devem-se sim, os fogos prevenir,
Com medidas, sem aos custos fugir,
Porque no fim, bem mais, se pagará.

TÃO PERTO, MAS TÃO LONGE
Tão perto, mas tão longe, me ficaram,
Tantos, a quem tratava por amigo,
Mas indiferentes foram p´ra comigo,
Apoio, precisei, poucos ligaram.

Fiquei sabendo assim, quem de mim gosta
E quem me chama amigo, mas fingindo,
Quem me abraça, mas, nada está sentindo,
Deles, meu distanciamento, é a resposta.

Mas doutros, sei que a sua amizade,
É pura, é sincera, verdadeira;
Por eles sempre terei muita afeição.

Aqueles que me ignoraram, na verdade,
Em convivência breve e passageira,
Não me ocupam lugar, no coração.

SENHORA
Este poema que foi vencedor ex-aqueo, no desafio da Alencriativos de tema: "Camões Poeta de Portugal".

Guardais senhora assim tão recatado,
Formoso amor a mim, por vós sentido,
Na luz do vosso olhar, anda espelhado,
O que no coração, trazeis escondido,
Quero por esse amor, ser encontrado,
Andando eu por ele louco e perdido;
Se a paixão que sentis, não é pequena,
Porque me consentis, tão dura pena.

E sois apenas vós, somente aquela,
Que ao meu coração, suas leis, dita,
A que de formosura, é a mais bela,
De todas as mulheres, a mais bonita,
Níveo rosto, beleza tão singela,
Que serdes Afrodite, se acredita;
Se grande, é o amor que me negais,
Aquele que vos dedico é muito mais.

Num forte vendaval de sentimentos,
Anda meu coração, desamparado,
Escutai os triste ais e os lamentos,
Daquele que está por vós, enamorado;
E só alcanço, ver-vos, por momentos,
Ficando meu viver, mais desgraçado;
Andando desse amor, eu tão carente,
No meu peito, a paixão, é fogo ardente.

Porque tal sentimento anda fechado,
O tempo veloz passa, sem parar
E sou por vós um triste apaixonado,
Que só vosso favor, quer alcançar,
Andando num viver tão desolado,
Imenso é meu amor, posso jurar;
Porque guardais assim, paixão sentida,
Se sois mais, para mim, que a própria vida.

MISTÉRIOS DO AMOR
- De me querer tão mal, já nem me quero -
- E não quero, a quem, me quer a mim -
- Mas não me quer também, quem tanto quero -
Em todo o lado vejo, gente assim.

Porquê, tanto querer, quem não nos quer,
E quem tanto nos quer, nós não queremos,
Causando dor no homem e mulher,
Mistérios do amor, que não sabemos.

Mas não se quer viver, também, a vida,
Sem nela haver alguém, por nós, amado,
Viver só por viver, não faz sentido.

Assim, a quem tiver, pessoa querida,
Que amamos e nos ama, ao nosso lado,
Viver, já não será, tempo perdido.

O MELRO
Junto da minha casa, há um jardim,
Que fica nas traseiras, situado,
Onde um melro, procura, atarefado,
Comida, numa busca sem ter fim.

E todo o santo-dia é sempre assim,
Com ímpeto, catando, o relvado
Soltando o seu canto, bem trinado,
Que julgo, dedicado, só a mim.

E penso que feliz, deverá ser,
Vivendo em liberdade e com prazer,
Cantando suas belas melodias.

Não sabe a criatura -Que é de Deus-
Que vai assim, com os trinados seus,
Quebrando, a apatia, dos meus dias.

ALENTEJO
Belas espigas doiradas,
Ao vento se baloiçando
Nas planícies encantadas,
Delas me estou recordando.

Mas ceifeiras já não vejo,
O louro trigo ceifando
Nos campos do Alentejo,
Lindas canções, entoando.

Já não vejo os alvos montes
Muitos deles foram morrendo,
Mas teus ribeiros e fontes,
Já com água, vão, correndo.


Vejo a tua boa gente
Que foi tão sacrificada,
Resistindo, bravamente,
Lutando p´la terra amada.

Alentejo, Alentejo,
Terra dura, quente, calma,
Quando em meu olhar te vejo,
A saudade, em mim se acalma.

Sei que hoje estás diferente,
Do que era habitual,
Mas serás sempre, atraente,
Como tu não há igual.

Tens o gado nas pastagens,
Tens sementeiras e flores
E tão bonitas paisagens,
O Cante e os seus cantores.

Tens tapetes afamados,
Azeite, queijos, enchidos,
Tens doces apreciados
E tens rios conhecidos.

Também tens as praias belas
Por muitos, frequentadas,
Olarias e capelas,
Em toda a parte afamadas.

E tens belos monumentos
Recortes da nossa historia,
Relembrando os momentos,
De nosso orgulho e glória.

Tens poetas e cantores
Com fama no mundo inteiro,
Com músicos e pintores,
De valor bem verdadeiro.

Excelente gastronomia
E uns bons vinhos também,
És no País, mais-valia,
A todos recebes bem.

Por lá tenho alguns amigos
Que guardo no coração,
Uns novos, outros antigos,
Tenho por eles, gratidão.

Neste poema, o desejo,
Foi o de te enaltecer,
Gosto de ti Alentejo,
Sem alentejano, eu ser.

1º DE MAIO
Neste dia, definido,
Ser o do trabalhador,
Estou muito desiludido,
Até com algum temor.

De ver como está o Mundo
Só com desumanidade
E com ódio bem profundo,
Andar cheio de maldade.

Quem trabalha é explorado
Por muito empregador,
A um escravo comparado,
Sem ninguém lhe dar valor.

E tanta é a ganância
Que existe no mundo inteiro,
Que só se dá importância,
Ao dinheiro, só, dinheiro!

Ver tanta gente também
Curvada ao vil metal,
Viver sua vida bem
E a tantos causar mal!

Ver escalar a violência
E guerras por todo o lado,
Nos homens tanta demência,
Com o terror instalado.

Sem lugar para o amor,
Tantas vidas se ceifando,
Tanto, mas tanto, horror,
Sabe-se lá até quando.

Ver mortas tantas crianças,
Outras em sexo, exploradas,
Matando suas esperanças,
Barbaramente, tratadas.

E ver muitos dirigentes
Que países governando,
Felizes, vivem contentes,
Com o que se está passando.

A eles nada importando
Que o Mundo ande louco,
Nem sequer nisso pensando,
Somente um pouco, um pouco.

Tanta gente nada, tendo,
E gente tendo demais,
É coisa que não entendo
Nestes tempos actuais.

Com o que se desperdiça
No nosso Mundo inteiro,
Se acaso houvesse justiça,
P´ra tudo havia dinheiro.

O que se gasta na guerra
Deveria ser usado,
Para fazer desta Terra,
Um lugar abençoado.

Deus assim o desejou,
Por isso ela nos deu,
Mas o homem alterou,
Esse bom desejo, Seu.

E assim à sua maneira,
Para os outros dominar,
Tem feito grossa asneira,
Estando o Planeta a matar.

Por isso peço a Deus,
Na Sua sabedoria,
Ensine estes filhos Seus,
A viver em harmonia.

Aos corações dê amor,
Às mentes, sabedoria,
Alívio ao sofredor,
Bom viver no dia-a-dia.

Mas se o homem não mudar
E só p´ro mal, evoluir,
Faça este Mundo acabar,
Para um melhor, poder vir.

GENTIL DAMA
Esquecer-vos já não posso, gentil dama,
Que me deste sorriso, assim…tão doce,
Antes quisera eu, que tal não fosse,
Se só ausência dele, meu ser, reclama.

Amor, esse sorriso, à alma, trouxe,
E ao coração meu, ardente chama,
Nas veias já meu sangue, se inflama,
Em paixão, com sabor, tão agridoce.

Raiando-me na mente, a loucura;
Esse sorriso vosso me prendeu,
Tal como borboleta presa à teia.

Desse lindo sorriso, ando à procura,
Já nem me reconheço, nem sou eu,
É fogo, que meu corpo incendeia.

ONDE ESTÁS ABRIL
Os tempos desse Abril, já se esfumaram,
Dos cravos, capitães, da revolução,
Fascismo nunca mais, nunca mais, não!
Muitos milhares de vozes o gritaram.

Hoje o fascismo anda encapotado,
Finge não existir, mas está presente,
Com isso enganando muita gente,
De democrata, andando disfarçado.

E muitos pensarão, estar sepultado,
Está vivo, podem disso ter certeza
E em altos lugares, bem instalado,

Dando à vida de muitos, incerteza;
Com dinheiro, que a tantos foi roubado,
Infame!... Vai causando, mais pobreza!

Sem comentários:

Enviar um comentário