quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

5 POEMAS de Victor Manuel B. Domingos























SEM PÃO
Tristonho, cabisbaixo
Na vida sem sentido,
Segue, rua abaixo,
Um homem perdido

Quem é o homem
Que vai pela rua?
Que mágoas o consomem?
Será a sua vida como a tua?

O Homem que passa
Pela rua, sem alento
É a imagem da ameaça
Da vida sem alimento.

É um chefe de família
Que teve uma quezília
Com o patrão
Por isso perdeu o pão.

Quem pensa nele?
Na sua família?
Fatos a mostrar a pele…
Só por uma quezília!

Estômagos vazios de pão.
Sem calor, sem fé.
A família cai na podridão,
Deita-se sem pão, levanta-se sem café.

NO REFEITÓRIO
I
Há um certo furriel,
Que em certos dias,
Faz um grande cartel
Com as suas manias.

II
Quando há “rancho melhorado”
Lá anda ele todo atarefado,
Com o pessoal todo contado,
Não vão lá comer mais um bocado…

III
Mas o que eu gostava de ver,
Era que esse furriel
Fizesse o mesmo papel
Quando não presta o comer.

IV
Que ele fizesse barulho
E se armasse em esquisito
Quando se come feijão com gorgulho
E “Sopa de Mosquito”.

É A VEZ DA POESIA
É a vez da poesia
Vamos então cantar
A vida, amor, alegria
Ou ler, ouvir, declamar.

Vamos cantar versos à lua
Ao sol, ao vento ao mar
Que a poesia está na rua
Com o Povo a respirar.

Poesia de liberdade,
De Sofia, Pessoa ou Ary
Que diga a verdade
Hoje, agora, aqui.

POMBO
Sou um pombo lisboeta
Que voa pela cidade,
Ouvindo muita treta
E alguma verdade.

Voando pelos telhados
Vi vampiros sanguinários,
Tipos maus e falhados
Prenderem operários.

E pelas minhas voltas,
S’o vento era de feição,
Olhei muitas revoltas
E vi a Revolução.

Vi a alegria do Povo,
A esperança que prometia
Um mundo novo
E ‘inda não é dia

A festa foi linda,
A Liberdade ficou.
Muito falta ainda
Ou alguém se enganou?

DOIS PÁSSAROS A NAMORAR
Agora q’estava aqui
Pensativo e a olhar
Eis então o que eu vi:
Dois pássaros a namorar.

Iam de ramo em ramo
Contentes a chilrear
A dizer “eu te amo”.
E isso eu quero cantar.

Lembrei-me d’outra era
Do nosso amor antigo
Era tempo de Primavera
E namorava contigo.

Mas que bela recordação
Aqueles pardais trouxeram:
O bater do coração
E os beijos q’se deram.

4 comentários:

  1. Que belas palavras, são sempre capazes de me arrancar um sorriso.

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  2. Numa época em que a narrativa é feita quase somente de prosa jornalística, sabe sempre bem dar de caras com simpática poesia.

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  3. É-me sempre agradável, a leitura de poesia e mais ainda, quando nasce de fonte amiga. Que essa alma de poeta, continue a ser bafejada pelas musas. Um abraço.

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  4. Muitos parabéns SRº Victor! Gostei muito dos seus poemas! Já tinha lido o seu trabalho em prosa, mas a poesia também não lhe fica atrás.Obrigada por esta surpresa. Beijinhos para si e para a Luxa.

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