domingo, 19 de janeiro de 2020

QUE O POEMA TENHA CARNE - Hélia Correia























Hélia Correia, nascida em Fevereiro de 1949 em Lisboa, licenciada em Filologia Românica e professora de Português do ensino secundário, tendo feito também um curso de Pós-graduação em Teatro Clássico.

Apesar do seu gosto pela poesia, é como ficcionista que é reconhecida como uma das revelações da novelística portuguesa da geração de 1980, embora os seus contos, novelas ou romances estejam sempre impregnados do discurso poético.

Em 2013, vence o Prémio Vergílio Ferreira pelo conjunto da sua obra, e vence ainda o Prémio Literário Correntes d'Escritas/Casino da Póvoa pela sua obra A Terceira Miséria, uma homenagem à Grécia.


Que o poema tenha carne
ossos vísceras destino
que seja pedra e alarme
ou mãos sujas de menino.
Que venha corpo e amante
e de amante seja irmão
que seja urgente e instante
como um instante de pão.

Só assim será poema
só assim terá razão
só assim te vale a pena
passá-lo de mão em mão.

Que seja rua ou ternura
tempestade ou manhã clara
seja arado e aventura
fábrica terra e seara.
Que traga rugas e vinho
berços máquinas luar
que faça um barco de pinho
e deite as armas ao mar.

Só assim será poema
só assim terá razão
só assim te vale a pena
passá-lo de mão em mão.

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