domingo, 19 de janeiro de 2020

A POESÍA É UN ARMA CARREGADA DE FUTURO Gabriel Celaya



























GABRIEL CELAYA (De "Cantos iberos", 1955)
Tradução: Arthur Santos



Disse Paco Ibañez:
Bueno... si.. hay que decir... los tempos que corremos... que... casi que diria... DESGRACIADAMENTE... tengo que seguir cantando esta cancion... ou tenemos que seguir cantando esta cancion... de Gabriel Celaya...


Quando já nada se espera pessoalmente exaltante
Mas bate e segue mais para cá da consciência,
ferozmente existente, cegamente afirmando,
como um pulso que golpeia as trevas,

quando eles se enfrentam
os vertiginosos olhos claros da morte,
dizem-se as verdades
as bárbaras, terríveis, amorosas crueldades.

dizem-se os poemas
que alargam os pulmões de quantos, sufocados,
pedem para ser, pedem ritmo,
pedem uma lei para o que eles sentem excessivo.

Com a velocidade do instinto,
com o raio do prodígio,
como evidência mágica, o real se torna
no idêntico a si mesmo.

Poesia para os pobres, poesia necessária
como o pão de cada dia
como o ar que exigimos treze vezes por minuto,
para ser e como somos para dar um sim que glorifica.

Porque vivemos de supetões, porque dificilmente nos deixam
dizer que somos quem somos
nossas músicas não podem ser um adorno sem pecado.
Estamos tocando no fundo.

Eu amaldiçoo a poesia concebida como um luxo
cultural pelos neutros
que, lavando as mãos, se desconsideram e se evadem.
Amaldiçoo a poesia daqueles que não tomam partido até ficarem manchados.
Assumo as minhas falhas. Sinto em mim aqueles que sofrem
e canto respirando
Canto e canto e cantando mais além das minhas tristezas
pessoais, eu me transformo.
quisera dar-vos vida, provocar novas acções,
E calculo com essa técnica, o que posso fazer.
Sinto-me um engenheiro de verso e um operário
que trabalha com outros a Espanha nos seus aços.

É assim a minha poesia: poesia ferramenta
ao mesmo tempo que latido do unânime e cego.
É uma arma carregada de um futuro expansivo
com que te aponto ao peito.

Não é uma poesia gota a gota pensada.
Não é um belo produto. Não é um fruto perfeito.
É algo como o ar que todos respiramos
e é o canto que abrange o quanto carregamos por dentro.

São palavras que todos repetimos sentindo
como nossas e voam. Eles são mais do que é dito.
São o mais necessária: o que não tem nome.
Eles são gritos no céu e na terra: são acções.

Porque vivemos de supetões, porque dificilmente nos deixam
dizer que somos quem somos
nossas músicas não podem ser um adorno sem pecado.
Estamos tocando no fundo.
Continuamos a tocar no fundo.

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