domingo, 19 de janeiro de 2020

5 POEMAS de Maria Luz























VEJO-ME ALI...
Vou escrevendo estrofes enroladas de sabores
e rabisco flores a desabrochar
em versos de mel e veludo.
Sim! Eu embrulho meus poemas em beijos,
que se deitam numa baía de desejos.
Escrevo rabisco e volto a escrever.
Frases doces, palavras dilatadas, consentidas, desejadas.
Sim eu escrevo em estrofes perfumadas,
nas minhas mensagens vou bordando inspirações .
E mistérios flamejantes em rimas profusas e cansadas.
Vejo-me ali!
Nas palavras emprestadas ao poema,
nos versos à minha alma.
Em céus nus ou estrelados na magia do momento.
Rabisco flores e estrelas cadentes
Escrevo aves brancas correndo pelos ares.
Vejo-me ali
Numa frase carinhosa ou ansiosa
E também no trigo, nas flores
e nas planícies sedutoras, escaldantes
Vejo-me ali!
Num poema ou prosa
rabiscando um verso entrelaçado no amor e no luar
Vejo-me ali!
Que me importa repetir?
Que importa se escrevo e volto a escrever ...
Não para impressionar, mas para minha alma
Para o meu viver impresso num papel
com cheiro de incenso ou mel.

MÁSCARAS
Por detrás de todos os rostos existe um mundo
desconhecido.
Uma mágoa antiga
Um segredo escondido
Uma alegria não conseguida
Um perdão por dizer
Uma história por contar.
por detrás de todos os rostos existe "o outro".
Onde guardamos todas as lágrimas
Todos os segredos
Existe "o outro" que não ousamos mostrar
Existe o rosto que escondemos.
Há um rosto escondido
Atrás da máscara
E por momentos
Enganas quem passa
Enganas-te a ti.
Inventas um mundo
Misterioso...Fantástico
Mas a outra...
Aquela que habita em ti
Só tu vês
Do outro lado da máscara.

QUERO-TE POEMA
Nos corredores da memória,
onde os pensamentos deslizam
querendo transformar-se em palavras
que tecem histórias.

O poema transpira.
Alguns tímidos versos emergem
emoções à flor da pele
ofegante, o poema respira
pétalas colhidas
no chão do pensamento orvalhado.

Versos escapam-me
como fios de água
que escorrem entre os dedos
humedecendo as paredes dos desejos.

Nos sulcos profundos da alma
sentimentos falam mais que mil palavras.
Persiste o sonho do poema,
do verso pulsante sem pudor
tão efusivamente sonhado
semeado para germinar
e cumprir a sua sina.

Quero-te poema,
em versos não pensados
que me venham da alma como lavas vulcânicas.
Quero-te
como chamas flamejantes
em versos nus
onde ardem mil
vontades aprisionadas.

QUERO
Quero ser mergulho
Profundo
no meu próprio mar
Não me vejo sem emoções
Sem loucura
Sem suspiros
Sem a alegria despretensiosa de sorrisos
Verdadeiros
Não me vejo sem sonhos e livre.
Não me vejo sem poesia
Meu pedaço de chão
Mar aberto de paixão
Vida que me abraça
A cada linha que escrevo
Poesia quero-te inteira
Como corpo que se entrega
Em acto único de abandono
Quero voar
na imensidão de mim mesma
escutando o vento
Construir um momento
sem medo
Viver a minha loucura
absorver a voz profunda
Que me dá respostas
Desvendar horizontes
Sentir-me livre
Fazer parar o tempo
Viver o sonho
E em acto único de abandono
Dormir enfim
No colo da Lua

GOSTO DO ALENTEJO
Gosto do Alentejo
Imenso, belo
escaldante e nu!

Gosto da terra de barro
Em cor da carne viva!
Gosto do mármore rosado
Como nudez sem pecado

Gosto de ouvir dizer
Chaparro, mocho, seara,
Monte, cante, compadre

Palavras que soam
Como música
Que o alentejano diz em tom arrastado
Como se arrasta a saudade,
E a ansiedade da sua alma

Gosto do Alentejo
Dos gritos de liberdade

Gosto do povo
Que tem pudor no riso
Orgulho no canto,
Esse estranho pranto.

Gosto das tardes de Verão,
De calma sufocante,
Onde só a cigarra canta.

Gosto da terra!
Da terra que se oferece
E estende os braços
Dessa terra fecunda,
Como um ventre macio
Em toda a imensidão
Duma nudez desejada!

Gosto do Alentejo
Sob o olhar de manto azul
Nas noites sem Luar!

Gosto do Alentejo
O que nele me seduz,
É o silêncio
Dar a mão à solidão,
Em bebedeiras de luz.

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